Dia do Meio Ambiente: O Futuro é Ancestral

Por Jéssica Vilacha. Embaixadora e Membra de Mães Negras do Brasil.

Hoje é Dia do Meio Ambiente. E para nós, mães, essa data carrega uma grande importância, que vai muito além das árvores, dos rios e do ar. Ela fala da vida que pulsa dentro da gente e fora da gente. Fala dos nossos filhos. Fala dos nossos ancestrais.

Quando olhamos para a terra, para o céu e para as águas, não vemos apenas recursos —

vemos heranças. Heranças que nos foram entregues com cuidado por quem veio antes, e que agora repousam nas nossas mãos, esperando que sejamos dignas guardiãs para quem ainda virá.

Nossos ancestrais, que sobreviveram ao sequestro, ao açoite e ao silêncio forçado, sempre souberam ouvir a voz da natureza. Eles entenderam que tudo está conectado — que o chão que pisamos é sagrado, que o alimento que colhemos precisa ser respeitado, e que a água que corre nos rios também corre em nossas veias.

Ser mãe é carregar no colo o amanhã. É saber que o mundo que deixamos para nossos filhos precisa ser tão acolhedor quanto nossos próprios braços. E é por isso que não podemos mais aceitar a destruição como normalidade. Cada árvore derrubada é um grito abafado. Cada rio poluído é uma memória esquecida. Cada animal extinto é um elo perdido na corrente da vida.

Mas há esperança. Há sempre esperança quando uma mãe fala. Quando uma mãe ensina.

Quando uma mãe planta.

Nós, mães Negras, carregamos uma força ancestral. Quando escolhemos ensinar nossas

crianças a respeitar a natureza, estamos honrando Oxóssi, senhor das matas, e Iemanjá, rainha do mar. Estamos reafirmando que a sabedoria dos nossos mais velhos ainda vive em nós. Que nossos quilombos resistem. Que o tambor ainda bate. Que o futuro é, sim, ancestral.

Cuidar do meio ambiente é cuidar dos nossos filhos. É dizer"Eu te amo" em outra linguagem. É garantir que amanhã eles possam respirar ar puro, brincar na terra, nadar em águas limpas, ouvir os pássaros, sonhar com um mundo justo.

Hoje, neste Dia do Meio Ambiente, olhe para o passado. Lembre-se de onde você veio. Das

histórias que sua avó contava. Dos cheiros da terra molhada. Do banho de rio, do pé no chão, da fruta colhida no quintal.

E depois olhe para o futuro, estampado no rosto do seu filho. Lembre-se de que este planeta é emprestado — ele pertence a eles.

Que possamos ser sementes. Que possamos ser raízes. Que possamos ser o elo entre os que vieram e os que virão.

O futuro é ancestral. E ele começa no agora.

Uma mulher negra colhendo beterrabas de uma plantação

Com amor.