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A potência da maternidade: Afetos e desafios

Por Jéssica Vilacha, membra, embaixadora e protagonista da comunidade.

A maternidade é um espaço de complexidade, afetividade e desafios que se desdobram de maneira única para cada mulher.

No coletivo, valorizamos nossas vivências que carregam a ancestralidade, a luta, e o saber feminino construído nas margens da história, onde as mulheres negras sempre foram responsáveis por manter e transmitir os valores, as sabedorias e as memórias de nossos povos.

Mães que, ao mesmo tempo que cuidam e ensinam, também resistem a uma realidade que tenta silenciar suas vozes e apagar suas histórias.

Em nossa roda de escuta “Maternidade singular, experiências e desafios” pudemos nos

acolher, refletir e falar de dores, luto e dificuldades em acessar um lugar que deveria ser

direito de todos. Na nossa troca, a potência das vozes ali representadas por mulheres que

carregam feridas e traumas profundos, em busca de atendimento para seus filhos, rede de

apoio e o simples desabafo da sobrecarga diária receberam o afeto de mães típicas e atípicas.

Ao falar sobre os desafios da maternidade atípica e típica, refletimos sobre como esses

diferentes modos de maternar dialogam com a experiência da mulher negra.

Como encerramento, fizemos a leitura do poema "Foi de mãe todo o meu tesouro" de

Conceição Evaristo que diz:


O cuidado de minha poesia

aprendi foi de mãe,

mulher de pôr reparo nas coisas,

e de assuntar a vida.

Foi de mãe todo o meu tesouro

veio dela todo o meu ganho

mulher sapiência, yabá,

do fogo tirava água

do pranto criava consolo.

Foi de mãe esse meio riso

dado para esconder

alegria inteira

e essa fé desconfiada,

pois, quando se anda descalço

cada dedo olha a estrada.


Foi mãe que me descegou


para os cantos milagreiros da vida

apontando-me o fogo disfarçado

em cinzas e a agulha do

tempo movendo no palheiro.

Foi mãe que me fez sentir

as flores amassadas

debaixo das pedras

os corpos vazios

rente às calçadas

e me ensinou,

insisto, foi ela

a fazer da palavra

artifício

arte e ofício

do meu canto

da minha fala.


A poesia de Evaristo, com suas imagens de cuidado, sabedoria e resiliência, reflete como a

maternidade se materializa como um campo de aprendizagem profunda. Para muitas

mulheres negras, a maternidade não é apenas o nascimento de um filho, mas o nascimento de si mesmas em múltiplas dimensões de vida, como mãe, como mulher e como ser social em um contexto que muitas vezes marginaliza essas identidades.


A maternidade, no contexto afrocentrado, também é uma viagem de autoconhecimento e

revelação. A mãe é aquela que, com sua sabedoria, abre os olhos da filha para o milagre da

vida, mas também para os obstáculos e para as adversidades que precisam ser enfrentadas. A maternidade, muitas vezes, ensina que não é fácil transformar o sofrimento em superação, mas que é possível.

Ao trazermos essa poesia para a roda de escuta sobre os desafios e experiências entre a

maternidade atípica e típica, podemos observar que a experiência materna, carrega uma força ancestral e uma sabedoria que transcendem os desafios do cotidiano. Olhando para a maternidade não só sob o olhar da norma, mas também em suas diversidades, respeitando as diferentes realidades que cada mãe vive. Para nós, ser mãe é também ser resistência, é transformar o sofrimento em potência e cuidar não apenas de seus filhos, mas de toda uma história que precisa ser ouvida e valorizada e nós, assim seguiremos.

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UUaauuu, grata por sua escrevivência!

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